Resenha: MAUS, uma HQ sobre o holocausto judeu

Sempre gostei de estudar História e, sem dúvidas, há uma forte ligação entre ela e o jornalismo. Entender o que aconteceu no passado nos faz também compreender o presente, e isso é fantástico!

Entre os vários acontecimentos na história da humanidade, alguns que a gente aprende na escola, um que me chama atenção, me emociona e faz refletir é o holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Gosto de estudar esse tema, assisto a filmes e leio desde os próprios relatos históricos até livros de ficção que mesclam a realidade daquele tempo com acontecimentos inventados.

No segundo ano da graduação, inclusive, tive a honra de escrever o perfil de um sobrevivente do holocausto, o senhor Michel Dymetman. Foi uma oportunidade e tanto! Mas dos vários relatos autobiográficos sobre o holocausto, quero apresentar hoje um que tem formato diferente: MAUS, uma história em quadrinhos.

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Capa da HQ MAUS. Foto: Reprodução

“Maus” significa “ratos” em alemão e, nessa história, o autor Art Spiegelman relata a vida do pai, o judeu Vladek Spiegelman, durante a Segunda Guerra Mundial. Em paralelo, o quadrinista conta também a relação um tanto conturbada entre os dois.

A narrativa é interessante porque, ao mesmo tempo que conta a história relatada pelo sobrevivente Vladek, apresenta como Art obteve todas as informações: em visitas constantes ao pai. É um verdadeiro trabalho jornalístico de um não jornalista.

Outro ponto curioso: as personagens da história são animais. Os judeus, tal como Hitler proclamava em seus discursos discriminatórios, são representados por ratos; os alemães são gatos; os poloneses, porcos e os americanos, cachorros.

Sempre que tenho a oportunidade de falar sobre minhas preferências em História, cito a Segunda Guerra e recomendo o conhecimento dela. Custo a acreditar que existam teorias negacionistas sobre o holocausto. Principalmente depois de conhecer e conversar com um sobrevivente, meu interesse e desejo de que tudo isso não se perca aumentam.

Trecho de ‘MAUS’. Foto: Reprodução

Além do forte tema, destaco o jeito com que o autor se insere na história e relata tudo de forma simples, fluida e objetiva. Uma história que não é dele, mas faz parte dele. É praticamente uma semibiografia. Por conta do bom trabalho, Art Spiegleman é o único quadrinista a ganhar o Prêmio Pulitzer.

Dividida em duas partes, a HQ apresenta primeiro a história de Vladek e as visitas que Art fez ao pai para apurar tudo. A parte 2 começa com a culpa e a (digamos) frustração do autor por ter publicado a obra. Ele não quis ganhar dinheiro com ela, não quis transformá-la em algo grandioso conhecido por todos no mundo inteiro. Dinheiro não (a)paga uma história dessas.

Michel Dymetman, o sobrevivente do holocausto com quem conversei, escreveu a autobiografia Anos de Lutas – Relato de um Sobrevivente do Holocausto por insistência das netas. Ele não quis colocar à venda, pois, segundo ele, a única coisa que queria era dar voz às muitas pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades que ele, inclusive a mãe.

Para mim, ler MAUS foi reviver os fatos que ouvi de Michel. Sem intenção de apelo ou sensacionalismo, confesso que tive empatia ao ler. Aqueles que conheço e leram MAUS aprovam. Uma leitura excelente com conteúdo melhor ainda. Todos deveriam conhecer essa história!