Mais longe foi aquele que tentou e não conseguiu do que aquele que não tentou.
Preciso começar dizendo que falo de um lugar de privilégios. Sou uma mulher branca, que nasceu na periferia leste de São Paulo, numa família bem estruturada que teve condições de pagar escola e faculdade (10% do total neste último caso, devido a descontos por baixa renda e estágio interno). Pude sempre me dedicar aos estudos e recebi todo o suporte familiar nas minhas escolhas. Tenho consciência de que as oportunidades são desiguais — e chegam a não existir para determinados grupos minorizados — e, portanto, falo de aproveitá-las e seguir em frente quando elas são postas à mesa e as condições econômicas e biopsicossociais são favoráveis.
Desse ponto de vista, a frase com que inicio esse texto me parece resumir a vida. Tem outra, que ouvi pela primeira vez da Silvia Cavalli, minha ex-diretora na TV São Judas, que levo sempre comigo: “Tenta. O ‘não’ você já tem”. Isso vale bastante para o jornalismo. Às vezes, você acha que não vai conseguir entrevistar determinada pessoa porque ela é muito ocupada, está sempre rejeitando entrevistas e vive rodeada de fama. Ok, o ‘não’ você já tem, então vale tentar a busca pelo ‘sim’.
Se você tem interesse em algo, tem vontade de fazer alguma atividade, comece dentro das sua condições. O máximo que pode acontecer é dar em nada ou resultar em algo muito bom. Em ambos os casos, é sempre um aprendizado.
Eu gosto de fazer uma retrospectiva quando algo marcante acontece na minha vida, seja bom ou ruim. Penso em como todos os eventos se desenrolaram e nas escolhas que me fizeram chegar até ali. É, inclusive, um exercício para combater a síndrome da impostora, que me faz esquecer e, às vezes, negar minhas capacidades. E por fazer retrospectiva, não discuto aqui sobre destino, que tudo já está escrito, sobre livre arbítrio e tantas outras questões subjetivas.
Recentemente, fiz uma dessas pausas reflexivas após ir a Brasília receber meu primeiro prêmio como jornalista. Quando terminei a faculdade, em 2014, não pensei em já iniciar outra graduação e/ou começar a trabalhar no mês seguinte. Queria um tempinho de férias, em casa, com a família e o namorado (já que os TCCs me tomaram bastante tempo!), mas aí se passaram um, dois, três meses e nada.
Não sabia o que fazer, não havia nenhum emprego em vista, mesmo tendo enviado — e continuo enviando — currículo para Deus e o mundo. Fiz uma entrevista antes do carnaval para assessoria de imprensa, uma área em que não tenho experiência e, por enquanto, não me atrai muito, mas deu em nada (só sei disso porque não me chamaram até hoje nem deram outro sinal qualquer).
Decidi, então, fazer tudo o que eu encontrasse sobre jornalismo: ler livros, assistir palestras, ir a encontros, fazer cursos, o que fosse. Em maio, soube de uma oficina de jornalismo gastronômico oferecida pela Énois (que oferece oportunidades incríveis a jovens) e me inscrevi na hora! Fui selecionada para participar e marquei presença. Um dia antes, bateu o desânimo. A oficina seria numa sexta-feira, das 10h às 17h, duas horas de trajeto da minha casa (só ida), e eu tinha passado a semana toda indo dormir tarde e acordando bem cedo.
Falei isso para o Vini, meu namorado, e ele veio com todo aquele incentivo:
— Vai, amor, vai ser bom para você.
— Mas eu não estou aguentando de sono, estou cansada, não quero acordar cedo! — argumentei.
— Faz um esforcinho e vai, sim.
Fui convencida e reforcei a ideia de aproveitar tudo! Para encurtar a história, depois de todo o processo da oficina — que incluía escrever textos —, me chamaram para escrever no site Na Responsa!, e eu topei sem titubear. Entre uma reportagem e outra, surgiu a pauta sobre ensino democrático, nossa editora falou que poderia se encaixar em um prêmio, fizemos e chegamos ao 3º lugar na categoria webjornalismo.
E aí pensei: e se eu não tivesse ido para aquela oficina? E se, mesmo indo para a oficina, tivesse recusado continuar? Eu não tenho como saber. Talvez eu estivesse na mesma, talvez eu tivesse viajado para o exterior, como desejava, ou talvez nunca teria tido tantas primeiras vezes de uma só vez: o primeiro prêmio, a primeira vez em Brasília, a primeira vez em um hotel, a primeira viagem de avião sozinha.
Faço esse tipo de reflexão para tudo na minha vida: como conheci as pessoas, como elas se tornaram amigas, por que elas permaneceram ou não, os caminhos que me levaram a conhecer o Vini, o porquê de jornalismo e não engenharia civil, etc.
Seja como, onde e com quem for, não desperdice as oportunidades que estiverem ao seu alcance. Elas estão aí para serem aproveitadas 😉